terça-feira, 9 de abril de 2013

PINCELADAS DE UMA INTIMIDADE LIBERTA - ABRIL - II

Bar Terraço do CCB - 06/04
Sento-me a almoçar o arroz de pato que escolhi.
O meu olhar navega sobre o rio Tejo e goteja na outra margem de certa maneira. Viajo como se viajasse por dentro de mim, ouvindo improvisos que a consciência entorna sobre as fugas ilusórias que o tempo espalha como cinzas de uma existância frugal. O corpo alimenta-se do olhar e o olhar fortifica-se com o ciclo das fragilidades que se perpetuam para além de todos os factos existenciais.
Acabo o almoço. O Senhor António Pinho Vargas, compositor de música contemporânea, senta-se a meu lado. Cumprimentamo-nos. Espero que a composição lhe saia fértil e que não tenha posto de lado, o Jazz.
O tempo que me dilui é uma subversão insubmissa no fulgor da sua transparência. Cansei-me de não ser. Levanto-me e parto como sempre parto. Partido por dentro, viajante por fora do alcance que não se alcança.
Ao fim do dia, adormeço, adormecendo tudo o que tempo cantou.

Bar Terraço do CCB - 07/04
Domingo. O sol mal se vê e, eu, mal me distingo na apoteose do nada.
Leio notícias. Respiro sobre elas. A fibra de quem governa é nenhuma. O Governo é displicente, ignorando o sentido de Estado. Parece um grupo dramático de teatro, representando a comédia dos seus próprios actos. Confrangedor.
Este Domingo aborrece-me. Sou carteiro de mim mesmo. O telegrama é um sonho que se despede. Todos os sonhos são assim. A Morte é a Vida que não se sonha.
Saio, saindo de mim mesmo e regresso, alheio, ao encontro de todos os meus desencontros.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 09 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H55 e as 15H45.
Postado, no blogue, em 09 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H33 e as 16H54.

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