sexta-feira, 5 de abril de 2013

PINCELADAS DE UMA INTIMIDADE LIBERTA - ABRIL - I

Quinta-feira, 04/04/2013.
Estação de Paço de Arcos. 11H45. Entro no comboio, sento-me em um banco com a janela virada para o Rio Tejo. Por momentos, despeço-me da vida que tenho, instalando-me em um calorífico qualquer, e, quentinho como as castanhas, sinto-me junto a um corpo que não vejo. Sinto-lhe o gosto da pele perfumada e faço da vida, não um quadro de sobrevivência, mas uma sensação de alegria breve que me recolhe a uma sala de bem estar. A vida pode ser um tinteiro sem tinta, mas a impressora imprime, sem cor, o sentimento hostil do dia que nasceu noite.
Chego à Biblioteca Nacional de Lisboa, à hora do almoço. Moelas, batatas fritas, rodelas de laranja e de kiwi. Depois, o café. Tudo, com a gentileza habitual de quem nos atende, ajuda a arrefecer-me a tristeza da noite e aquece-me o prazer de respirar as palavras que se soltam em folhados de escrita. Lendo a viagem poética de Rimbaud, compreendo a estética cenográfica do poeta Jim Morrison. A memória escuta, os olhos descobrem o impacto do seu tempêro verbal. Escrevo um poema, um texto em prosa, e, sirvo-os, como sobremesa, nos meus blogues. O tempo envelhece-me, um pouco mais, e o entardecer é uma valsa de leituras breves no El Corte Inglês.
As 18H42, rumo à Dolce Vita onde janto e espreito algumas notícias, na Televisão. Nada relevante, na irrelevância de uma demissão anunciada. O país não é uma imobilidade, é uma razão de espera.
Pelas 19H44, inicío, a pé, o regresso a casa. A noite é um anúncio de vida e, eu, sou uma vida de anúncios que não se anunciam. O comboio é uma sombra de movimentos humanos que se recostam no encosto da indolência e da sonolência vocabular que se enrola, confortável, nos travesseiros da noite que apagam toda a brevidade da sua consonância diária. Adormeço, sonho de sonhos, que a memória arquiva no disco rígido da sua rigidez efémera.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 05 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H10 e as 13H56.
Postado, no blogue, em 05 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H08 e as 14h35

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